quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O mundo é feito de escolhas

Hoje cedo eu resolvi escrever esse texto. Não é um poema como é normal eu publicar mas acho que ele é consonante com o objetivo do blog.
O mundo é feito de escolhas. Uma vez eu vi uma propaganda de pré-vestibular que dizia essa frase. Fora a metáfora banal com o método de provas múltipla escolha do vestibular, o fato de isso ser parcialmente verdade sempre ululou na minha mente. Parte verdade porque alem de ser feito de escolhas o mundo é feito da falta delas, ou melhor, do acaso. Muitos cientistas que foram muito mais perspicazes do que apenas serem capazes de passar no vestibular podem afirmar que a própria espécie humana é o resultado de um grande "acaso químico". Outros nem tão perspicazes dizem que somos resultado de uma escolha. Ao olhar por este angulo eu penso como essa frase pode parecer absurda. O mundo não é realmente feito de escolhas. Ele já estava aqui antes de fazermos escolhas. O mundo é mais complexo que isso, que a nossa capacidade de escolher. 

O que de fato as nossas escolhas constroem é a mudança que operamos neste mundo, como rompemos a entropia que no estado natural das coisas tem as suas vezes de ordem. Podemos dizer também que o “nosso mundo” é o resultado de nossas escolhas. O mundo no qual estamos inseridos, este que parece ser o mesmo mundo entrópico que sempre esteve aqui, mas que se olharmos de fora percebemos que é o “nosso” porque é a parte da realidade que foi afetada pelas nossas escolhas – ou falta delas. Se pensarmos assim vemos que nossas escolhas mudam alguma coisa do mundo em geral e muitíssimo mais do nosso particular. Mas já pensaram como a falta das nossas escolhas – que não muda absolutamente nada no mundo em geral – pode ser representante de uma grande parte constituinte do “nosso” mundo? O que me faz refletir sobre a entropia. Entropia é a uma palavra grega que designa desordem ou caos, mas também é uma grandeza física que remete a distribuição de energia no universo. Quanto mais baixa for a entropia maior o desequilíbrio energético da realidade. A tendência natural do universo é equilibrar a sua energia, ou seja, aumentar o nível de entropia. Ou seja, a tendência do universo é aumentar o seu nível de caos. Se pensarmos que nossas escolhas, quanto ações, mudam um pouco o mundo a nossa volta, podemos concluir que botamos um pouco mais de “ordem” no universo. Se pensarmos assim poderemos dizer que o universo, o mundo lá fora, desorganiza a nossa vida, aumenta o nível de entropia, afinal é uma tendência natural. É claro que as escolhas não são algo natural. As arvores, por exemplo, são naturais e não tem nenhuma escolha. Seguindo por este caminho podemos pensar também que um mundo “nosso” alem de ser algo artificial e só evidênciavel pela nossa própria experiência é algo construído a revelia das tendências universais do “caos” e identificado pela sua ordem singular, seu vinculo conosco. Mas o mundo nos “desorganiza”... Mas as nossas escolhas põe “ordem” ao mundo... Isso tudo me leva a questão inicial: o nosso “mundo” não é apenas o resultado de nossas escolhas, mas também o resultado da que não foram feitas. E o que diabos é uma escolha não feita? Bom uma coisa só pode não ser se um dia o pode. Uma escolha não feita é uma escolha que pensamos em fazer e não fizemos. Quando isso acontece a mudança – e ela sempre existe, pois assim é o mundo geral – acontece por meio do caos natural, aumenta o nível de entropia do sistema “nosso mundo”, e as mudanças ficam a cargo do acaso. As vezes é bom. Veja a simples possibilidade deste texto ser escrito possível sem o acaso químico que gerou a nossa espécie. E com toda certeza nós somos mais produtos do acaso do que qualquer outra coisa, afinal se alguma mente superior podesse ter escolhido nos criar o “nosso mundo” não teria tantos elementos de caos, afinal as escolhas “ordenam” o mundo. Mas quando não se tratam de bilhões de anos de evolução ou provar que deus é uma ideia sem fundamento as escolhas não feitas de fato, não somente deixam de mudar o mundo e acabam deixando um espaço aberdo para o caos entrar pela janela no “nosso” – o que é o resultado de sua não ação – mas elas permanecem existindo, ou não existindo na nossa mente. E daí? Bom, se fazemos uma escolha podemos avaliar se o seu resultado foi proveitoso ou não. Agora se não fazemos é outra historia. Se tudo fica bem, bom então podemos avaliar que foi bom não ter feito nata. Agora se as coisas acontecem de forma a deixar as situações piores do que estavam antes da idéia da escolha – e ainda perdemos a chance de fazê-la – bom daí é isto, ficamos pensando como poderia ter sido melhor se a tivéssemos feito. Alem do mais na situação de não ter feito nada e as coisas terem saído bem também existe a hipótese de que se a escolha fosse feita as coisas terem saído melhores. Mas agora já era! Só o caos mudou sua vida. Acho que as escolhas são importantes. De fato o mundo que mudamos é assim transformado por elas. Mas acho que as escolhas que não fazemos também são importantes. Pois se podemos aprender com as escolhas que fazemos podemos vislumbrar – e aprender também com – o que ocorreria se fizéssemos as que não fizemos. Mas com todo o aprendizado, produto da ações e não ações, acho que as escolhas mais importantes são aquelas que com toda a certeza deveríamos ter feito.

Um comentário:

Ana Zatt disse...

Filho, qualquer que sejam tuas escolhas (ou não-escolhas), quer fruto do caos(da dor) ou da ordem (do amor), saibas que podes contar comigo. Um beijo da- casualmente - tua mãe nesta vida.
Segue um Castaneda, para variar:

"Qualquer caminho é apenas um caminho e não constitui insulto algum – para si mesmo ou para os outros – abandoná-lo quando assim ordena o seu coração.(...) Olhe cada caminho com cuidado e atenção. Tente-o tantas vezes quantas julgar necessárias... Então, faça a si mesmo e apenas a si mesmo uma pergunta: possui esse caminho um coração? Em caso afirmativo, o caminho é bom. Caso contrário, esse caminho não possui importância nenhuma."


Carlos Castañeda,
Os ensinamentos de Don Juan