Maquina.
Não sei se é esse braço que faz "tic"
que já não vejo mão mas só arestas.
Não estou ligando todas peças.
Estou só concentrado na tarefa.
Antes eu fazia, com esmero.
Mas então logo veio a matrela.
E passou a fazer o que eu fazia.
E enquanto outrora eu só era o martelo.
Hoje eu sou mesmo é ela.
Eu sou maquina!
Sou ruído continuo e urbano.
Já não posso transigir a sua regra.
Fui fazendo o produto ano a ano.
E fui moldado pela sua meta.
Já não sou mais corpo só função.
Não há mais fé, nem esperança.
A fé move a montanha, não o patrão.
E mesmo que eu espere mais um dia.
Sigo a praguejar com insegurança.
Eu sou pouco que produz sozinho.
Eu sou o lucro e o salário do dia.
Eu sou pouco sem o meu vizinho.
Que em quanto trabalhava ainda sorria.
Já existiram outras maquinas como eu.
Umas até dedos cortaram.
Mas em momento algo se perdeu.
E acho que elas pifaram.
Eu continuo sempre a produzir.
Sempre, sempre, nunca paro.
Eu produzo sem produzir nada.
Continuando um trabalho nada raro.
Continuo sempre sendo maquina!
Mas sou eu e os vizinhos.
Somos todos peças adjacentes.
Temos ilusão de ser sozinhos.
E ilusão de sermos diferentes.
Somos todos maquina.
De uma mesma industria.
Mas que trabalha desligada.
E desligada produzimos.
Produzimos nada!
Mas eu sei que vai raiar o sol de um novo dia.
Que brilhara alem da industria.
Que trará mais sabedoria.
Para esse amplo maquinário.
E então nós que somos maquinas
Produziremos de verdade.
Sem patrão, industria ou horário.
Produziremos uma nova sociedade.
Não como hoje produzindo desligado.
Que por enquanto faço sozinho.
Quase sempre só o meu trabalho.
Pois para deixar de ser sozinho precisamos
Ser aparelho integrado.
Hoje, faço “tic”, pois sou maquina.
E produzo o meu nada sozinho.
Estou prezo sem os meus vizinhos.
Que também não produzem nada.
E só deixarei de ser maquina quando todos de nós formos ligados.
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